A janela

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sábado, fevereiro 27, 2016 by

Às vezes eu abro a janela que por muito permanece cerrada. Permito ao calor do sol por ela adentrar juntamente com os sons das vozes, dos insetos e ônibus. Há sempre um novo ar preenchendo o espaço que, por horas a fio é possuído por aquele que flui do condicionador de ar. Castigada a minha pele, castigada a minha voz e o meu respirar. Eu particularmente detesto ar condicionado. Sou apaixonado por ambientes urbanos mas detesto nosso excesso de  artificialização das coisas. A todo tempo nos fazemos reféns da nossa capacidade de gerar sensações efêmeras e industrializadas de prazer e conforto. Artificiais. Trocar a caótica sensação de extremo quente do clima carioca pelos glaciais dezessete graus paliativos e secos. Radical. O que outrora vindo da terra fresca agora muitas vezes só achamos embalado e só compramos depois de checar os tantos dados nutricionais. (Demasiado) racional. As dietas alimentares às quais nos submetemos devidas à porcaria de vida que insistimos viver: o corpo sofre com a louca jornada para se fazer dinheiro, esquece-se o social e recompensa-se com prazeres egoístas. No fim a comida dita saudável "salva" - apesar de extremamente cara -, além de algumas horas na academia. Eis a porcaria de vida que queremos levar. Boçal. Creio que a vida não foi criada para ser assim. Já faz um tempo que não vivo tão mais centrado no meu eu. Já faz um tempo que eu percebo que tudo está bastante errado - embora uns queiram negar que o mundo esteja de ponta a cabeça - e o ser humano quer ir além do que pode aguentar. Há um tempo repenso coisas, questiono certas falas e pensamentos, me desapego do passado para abraçar o novo. É tudo uma questão de movimento pra fora; sair da sala gélida com ar artificial venenoso e do fútil anseio por um bem estar esquizofrênico e mergulhar no quente dourado do sol lá fora. Genial. Abrir a janela, sair pela porta, olhar ao redor e ansiar pelo mundo como ele deveria ser. Real.

Por Sanderson Moreira (25/02/16)


To be continued

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quinta-feira, dezembro 31, 2015 by

Nada de novo:
linha contínua;
Maratona
onde se colhe
aquilo que ontem
se plantou;
Promessas
que se tornam dívidas;
Desejos
que se reduzem a quimera.

Meu hoje dá mãos ao ontem
no sonho de abraçar um "amanhã melhor".

( = eu melhor, 
coração melhor,
amor maior).

Não haverá paz plena,
Milagres súbitos tampouco
Mas prevalece a certeza de que não se está só. ‪#‎Emanuel‬

Nada de novo
( - às vezes é tudo de novo)
no virar de páginas
dos lúcidos e tolos.

Continuará.

Por Sanderson Moreira (31/12/15)


Minha escolha

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quarta-feira, dezembro 30, 2015 by


Qualitativamente falando, talvez um dos presentes mais especiais e intrigantes que me fora proporcionado em 2015 foi a consciência de que eu sou um ser que faz escolhas, que pode simplesmente optar por uma estrada nesta vida sem ter que automaticamente ir com o fluxo, com uma multidão que até sabe pra onde está indo mas infelizmente não sabe o seu porquê (e às vezes sequer vê um sentido nisto). Aprendi que se pode dizer NÃO e isso é mais do que uma arte. É saber que há algo para além do SIM automático que inconscientemente proferimos porque a todo tempo estamos vivendo num modo de sobrevivência louco e doentio, que te diz que viver é aceitar tudo, a vida como ela aparentemente é, e que lá no final haverá, de alguma forma, um espaço pra felicidade - pois você não pode desfruta-la agora; há de se sofrer pra conseguir saboreá-la antes. Não há apenas um caminho. A vida é mais. There's more to life than what we frantically believe that life is.

A letra dessa música traduz muito desse sentimento:

"Let me see where I belong, let me be a little part of it!
Can I choose my way in life? 
Can I dream? Can I feel?
Could I know my choice?
A choice without the illusion that luck is for sale, 'cause I have all that money can buy."


#‎NowPlaying‬: After Forever - My Choice

Por Sanderson Moreira (26/12/15)


Processo

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sábado, novembro 21, 2015 by

Salas de espera me são insuportáveis, bem como os atrasos, senhas, filas, sinais vermelhos ou qualquer outra coisa que requeira aguardar. Fala-se tanto que a vida é um processo. Eu falo tanto que tudo é um processo. Mas a grande verdade é que, quando o processo se dá em mim, ser paciente se torna uma tarefa bem árdua. Agosto, setembro, outubro, novembro e o que mais vier. Têm sido meses estranhos. Você acorda um dia em agosto e sua voz já não soa como antes. Há algo errado. Investiguemos. E, ao investigar-se, cala-se. Drummonizando à la moi-même, "no meio da laringe tem uma 'pedra' ". Um mês silencioso, no qual, além da minha intensa fala e canto, as canções do meu telefone tiveram também suas férias inesperadas. Três semanas sem minha maçã portátil. Os dias de setembro me abriram os ouvidos para o som de todas as coisas ao meu redor. Carros, ruídos, o vento, a gente, a música no mais elevado volume dos fones alheios no coletivo. Uma sinfonia louca que me acompanhava nas manhãs em Copa. Fonoterapia. Água, gargarejos, dó, ré, mi, fá, sol, correria, correria, correria. Metrô, ônibus e BRT quase todo santo louco dia. Rotina. Era o que eu antes não tinha. Desculpe-me pelas rimas, mas tenho tentado expressar uma dor de uma forma que não seja cliché ou dramática. E nem triste. Reconheço que o ocorrido não é a pior coisa do mundo, mas levou a musicalidade dos meus dias ao mudo. Vão-se as notas, os tons agudos, o querer falar; vão-se hábitos, os quilos, o café e alguns chás. Nem tive tempo de dizer adeus pra muitas dessas coisas: elas simplesmente me abandonaram ou tiveram que partir sem sequer o acenar da mão. O refluxo foi feroz, me deixou assim só. Mas (re)descobria, logo em seguida, que não estava só. Bençãos maravilhosas me brindaram o coração; pessoas me ajudaram e algumas pequenas alegrias fizeram canção nos meus dias. Ao cabo de três semanas, uma bateria esgotada ao tentar se trocada me rendeu uma maçã nova. Apesar dos muitos reais, tive a graça de ter a orientação profissional de seres maravilhosos. A maratona Botafogo, Copacabana e Barra sempre trazia uma felicidadezinha, uma sensação de progresso. Hoje, em meio a isso tudo, só vejo aprendizado e cheiro novidade. Nada ainda chegou ao fim.  Há muitas questões se entrelaçando nessa trama e aos poucos o novelo tem se desfeito em uma linha retilínea; a algum lugar se está chegando. Mas, ainda não é o fim. Ainda é um processo; a longa espera que, embora pareça tão próxima de seu fim, ainda grita tão interminável. Eu preciso saber esperar, eu preciso aprender a tomar o chá de cadeira que a vida oferece. E, nesse processo, há carinho, há cuidado, há transformação, há aprimoramento. O Soberano tem provido com amor; e em paz transformado toda dor.

Sanderson Moreira (21/11/15)


À França, ao Brasil, ao mundo.

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domingo, novembro 15, 2015 by



World is going crazy. World is going mad.
Through it all, only Jesus remains the cornerstone.
Unshakable rock;
Hope worth living for.

Jesus, only Jesus.

Answer for the men;
Cure for every pain.
Love that dissolves hate;
Joy that comes to save.

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O mundo está enlouquecendo;
O mundo está endoidecendo
Apesar de tudo,
Cristo permanece, a rocha firme, eterna
Inabalável e segura
Esperança que não nos frustra

Cristo, somente Cristo

Resposta ao homem sofredor,
Remédio para toda dor,
Dissolve o ódio quão grande amor
Alegria que pra salvar chegou


"The Eiffel Tower", by Georges Seurat


por Sanderson Moreira (13/11/15)


Looping

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quinta-feira, outubro 08, 2015 by

...A vida
é um looping;
velhas indagações
ainda engasgadas
que não se vão.
Por anos me seguem,
me engolem, me tomam;
E assim segue
a vida...


Sanderson Morera (08/10/15)


Aqui

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quarta-feira, agosto 05, 2015 by

Você sempre esteve lá quando todos o mesmo fizeram. Você sempre questionou os mesmos tópicos que todos eles sempre questionaram. Sua mente sempre se ocupou das mesmas reflexões que preenchiam a de todos eles. Seus dias transcorriam na cadência que embalava os deles. Tudo era tão ilusoriamente uniforme, e o uniforme era o belo, fazia brotar esperança e o sentimento de que não se estava sozinho. Mas agora, você está aqui. Você esteve, ficou e está aqui, mesmo que todos não compreendam. [A vida te trouxe aqui, acrescento]. Poucas as vezes foram aquelas nas quais você optou por não se mover, por dizer não, mesmo. Você sabe que isso é verdade. E isso tem um gosto tão... Peculiar, agora [não é?].  Esqueça as consequências e simplesmente saboreie o fato de que, desta vez, você escolheu estar aqui.  Saboreie o prazer da escolha sem medo de remar contra a maré. Aqui. Aqui você lida com novos medos e inseguranças, mas também se vê seguro diante de um bocado de coisas que te paralizavam.  Uns velhos grilos hoje são detalhes e você até ri de como eles te faziam pirar. Um mecanicismo de outrora agora parece tão estranho diante da convidativa aventura de criar vínculos e ser Vida na vida dos que sem Vida vivem. Sabe aquele círculo redondinho? Ele agora é uma reta, e não tente consertar isso. E retas traduzem-se em pontos; ligam-se, estão juntos, há em miríades. É perfeição. Aquele horizonte que você achou que já era vasto o bastante agora emerge mais vivo e mais rico, e mais largo e mais mais. Não é mais do mais. Não é algo a mais. É algo mais. Pode não ser belo e tampouco mais claro. Mas é mais. Aqui você continua respirando; o ar não é tão novo, mas você agora está respirando melhor. Há uma profundidade ansiada, e, entenda: ela sempre será profunda o suficiente pra que você não a alcance. Considerar possibilidades, sair da caixa, sentir-se parte do caos e evitar minimizar as interferências ou inesperados, isso tudo faz parte. Aqui. Você permaneceu e tudo transcorreu ao passo da rotina, com os múltiplos despertares a cada alarme do smartphone e com cada gole de chá ou café que encerrava a jornada de cada santo dia. Você diz buscar ser relevante e esperar que sua vida ganhe peso de impacto em outras. Você diz buscar ser mais forte e nunca se esquecer do alegre convite feito pelo Carpinteiro. Você diz buscar um novo sentido, ser aquilo que nunca ousou ser ou experienciar aquilo que não se permitiu viver. E isso tudo só passa pela sua cabeça, bombeia em seu coração e percorre suas frágeis veias porque você está no lugar onde exatamente deveria estar. Sem arrependimentos, você está aqui. Aqui.

Sam (05/08/15)